sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A história algo dolorosa de uma serpente

Eis o registro atrasado e desmemoriado de nossa deliciosa Oficina Garbo do dia 13 de fevereiro, sexta-feira. De hoje, são duas semanas passadas. Um carnaval no meio do caminho. Mesmo com a cabeça caoticamente povoada de tudo, basta espremer um pouco a testa e silenciar para escrever este relato. Fechar os olhos é opcional.

Sabrina nos mostrou vídeos que fez no Museu da República. Duas senhoras lhe contavam sobre suas vidas; comparavam o passado ao presente. Ambas sentiam saudades: a primeira, do filho morto há alguns anos e a segunda, de sua infância (antes da cadeira de rodas). Sabrina vai continuar com as entrevistas e disse que está ansiosa por falar com uma “velhinha alto-astral”. Acho que naquele momento nós sentimos um medo real do estigma melancolia-solidão que paira sobre a chamada Melhor Idade.

Rafael quer investigar as caras da memória. Sendo para cada um tão singulares, as memórias não podem também ter (maiores ou menores) reincidências / coincidências / correspondências? Nós preenchemos o “Questionário da Memória” criado pelo próprio Rafa. Com perguntas do tipo “Minha memória tem cheiro de quê?”, nós escolhíamos uma opção que remetia a uma lembrança pessoal. Numa calma – porém, algo dolorosa – sessão, nós anunciávamos nossas respostas e revelávamos o mundo que se escondia atrás de cada uma delas.

Paula gostaria de ter iniciado uma pesquisa gestual sobre memória, estilização e objetos. Como não tivemos um espaço mais apropriado, cumprimos apenas a etapa proposta dos auto-retratos com um objeto que tinha alguma importância naquela sexta de 2009.

O por quê dos objetos (chave do carro, pinça, protetor labial e mini game) também foi compartilhado.

Eu, Leetycyah, iniciei minha pesquisa sobre remotíssimas memórias que não sabemos ao certo se as temos ou inventamos. Durante a semana, fiz um ensaio fotográfico com uma cobrinha de brinquedo no jardim da UniRio. Uma das minhas lembranças mais malucas do maternal (sim!) é uma musiquinha : “Essa é uma história de uma serpente que desceu o morro para procurar os rabinhos que perdeu. Você também é um pedaço, um pedação!, do meu rabão!”. Mostrei duas fotos. Pedi que ao verem aquelas imagens, todos tentassem lembrar de algum episódio antigo. Em duplas, um contou ao outro sua história. Individualmente, recriamos a memória relatada pelo parceiro de um jeito não-literal. Fizemos desenho, fogo, foto e foto-novela. Só no final as memórias alheias eram conhecidas.

Está tudo digitalizado em fotografia e, a partir de agora, nessas palavras.

Que a riqueza de dentro esteja sempre conosco!