domingo, 16 de novembro de 2008

Cabeças Ruminantes


“SP – Um raio matou 37 bois durante um temporal em uma fazenda de Paulistânia. Por volta de 17h, o tempo fechou e veio a chuva. Instintivamente, o rebanho buscou abrigo debaixo da árvore”. (TV TEM, 11/11/08)

“O gado, avaliado em R$ 30 mil, não pode ser aproveitado porque a descarga elétrica provoca hemorragia e deixa a carne dura”. (O Globo, 12/11/08)

Um falou: Vamos lá. E trinta e seis responderam: .

...Tchoma!

Sem mais rodeios: a gente se perde ruminando idéias que não são nem nossas.

Criaturas, coragem!

Esse é o conselho noturno do meu coração pára-raio.

Leticia Guimarães

domingo, 9 de novembro de 2008

O que é que o Fellini tem? ou A extrema subjetividade do que te toca às vezes não me faz nem cócega


É engraçado. Grandes (e pequenas) obras de arte fazem de nós, pessoas simples, pessoas ainda mais simples orbitando ao seu redor, pedindo para entrar, cão de padaria, belezas comestíveis direto na corrente sangüínea e nós ali, intrigados e embasbacados. No fundo todo mundo sabe como é ser transpassado por uma coisa bonita. Hoje eu acho que deve ser como ver diante dos olhos os flocos brancos de neve trapaceando a gravidade.

A Filosofia desde sempre tenta definir, classificar, identificar e delimitar o belo, o bem-bom, a verdade. Essa noite confirmou-se para mim que a extrema subjetividade do que te toca às vezes não me faz nem cócega. Tenho aqui um livro clássico e um filme clássico. E por que será estou cerrada nesse burrríssimo “não gostei”? Não gostei porque não me sacolejaram, não me cafunezaram, não me desmiolaram e tampouco me realmaram.

Até aí, nada de tão revelador; nenhuma mensagem, nenhuma grande lição a não ser o velho “Gosto não se discute”. Mas isto muito me interessa. Os Garbosos estão pensando no teatro de hoje e no teatro para o outro. O caminho para os corações alheios se pode trilhar ou ele é mera e humana coincidência? Impossível prever quantos gostei e não gostei nos esperam ao fim de cada dia de trabalho.

É mesmo assim. A cantada de James Joyce não funcionou comigo nesse momento. Só para dar um exemplo franco e quase inconfessável. Gostoso mesmo é fuçar doidamente as fontes, os clássicos, os boatos, as promessas e o que mais pintar na frente. A gente se alimenta (e tem muita fome!) de peças, falas, fotos, frames, acordes, pinceladas, prosa, verso, mármore, gente, ficção e realidade.

Só para dar mais um exemplo franco e quase inconfessável: eu nunca vi um floco de neve, mas me contaram como é e agora eu imagino como seja.

Leticia Guimarães

domingo, 2 de novembro de 2008

Último samba no sujo ou Comercial, não; comercializável, sim!

com quantos reais se faz uma realidade / preciso muito sonho pra sobreviver numa cidade / grande jogo de cintura / entre estar esperto e ser honesto / há um resto que não é pouca bobagem
Pedro Luís


Mais uma inscrição em Edital público de fomento às Artes Cênicas mobilizou o Garbo e centenas de outras companhias e grupos essa semana. Ficha, proposta, currículos, cronograma, orçamento, texto, justificativa da necessidade do prêmio, fotos, planejamento de ações estratégicas, cartas e documentos. Tudo encadernado. E em três vias, claro.

Pescador que nem não vai vender o seu peixe nem não levaria a rede para o mar. Ou nem não iria para o mar. Ou nem não seria pescador. A filosofia de bar pode até ser rasa, mas rasos não são nossos copos e nossos corações. Por algum viés, por algum buraco, por alguma brecha, por uma via – ou três! – nós tentamos alcançar meios de fazer teatro.

Não é fácil caminhar descalço o longo caminho do patrocínio. Mas sem fazê-lo, como sair efetivamente do lugar? Em tanta, tanta gente talentosa, humana, genuína e sincera que conheço arde o mesmo desejo de tornar pública e acessível sua arte. E essa gente há de entender perfeitamente que isso não se trata de fama ou fortuna.

Meus amigos, remendai vossas redes! Preparai vossas Havaianas! Esse é o projeto social de um coletivo, de toda uma geração de atores, diretores, dramaturgos, cenógrafos, figurinistas e iluminadores. Muito provavelmente, para construir e consolidar esse coletivo é preciso dar as mãos munidos de uma fé quase cega, quase religiosa. Com muito trabalho e persistência, nós vamos, através dos anos, escrevendo parte da História da cidade. Simplesmente porque estamos dispostos a interferir e ser interferidos pelas pessoas.

Ao som de um tango brasileiro, eu jogo aqui no ar minhas convicções juvenis e inflamadas. Dedico esse textinho a todos os camaradas da classe. E me despeço. Até muito breve e muitos abraços.

Leticia Guimarães