domingo, 9 de novembro de 2008

O que é que o Fellini tem? ou A extrema subjetividade do que te toca às vezes não me faz nem cócega


É engraçado. Grandes (e pequenas) obras de arte fazem de nós, pessoas simples, pessoas ainda mais simples orbitando ao seu redor, pedindo para entrar, cão de padaria, belezas comestíveis direto na corrente sangüínea e nós ali, intrigados e embasbacados. No fundo todo mundo sabe como é ser transpassado por uma coisa bonita. Hoje eu acho que deve ser como ver diante dos olhos os flocos brancos de neve trapaceando a gravidade.

A Filosofia desde sempre tenta definir, classificar, identificar e delimitar o belo, o bem-bom, a verdade. Essa noite confirmou-se para mim que a extrema subjetividade do que te toca às vezes não me faz nem cócega. Tenho aqui um livro clássico e um filme clássico. E por que será estou cerrada nesse burrríssimo “não gostei”? Não gostei porque não me sacolejaram, não me cafunezaram, não me desmiolaram e tampouco me realmaram.

Até aí, nada de tão revelador; nenhuma mensagem, nenhuma grande lição a não ser o velho “Gosto não se discute”. Mas isto muito me interessa. Os Garbosos estão pensando no teatro de hoje e no teatro para o outro. O caminho para os corações alheios se pode trilhar ou ele é mera e humana coincidência? Impossível prever quantos gostei e não gostei nos esperam ao fim de cada dia de trabalho.

É mesmo assim. A cantada de James Joyce não funcionou comigo nesse momento. Só para dar um exemplo franco e quase inconfessável. Gostoso mesmo é fuçar doidamente as fontes, os clássicos, os boatos, as promessas e o que mais pintar na frente. A gente se alimenta (e tem muita fome!) de peças, falas, fotos, frames, acordes, pinceladas, prosa, verso, mármore, gente, ficção e realidade.

Só para dar mais um exemplo franco e quase inconfessável: eu nunca vi um floco de neve, mas me contaram como é e agora eu imagino como seja.

Leticia Guimarães