domingo, 2 de novembro de 2008

Último samba no sujo ou Comercial, não; comercializável, sim!

com quantos reais se faz uma realidade / preciso muito sonho pra sobreviver numa cidade / grande jogo de cintura / entre estar esperto e ser honesto / há um resto que não é pouca bobagem
Pedro Luís


Mais uma inscrição em Edital público de fomento às Artes Cênicas mobilizou o Garbo e centenas de outras companhias e grupos essa semana. Ficha, proposta, currículos, cronograma, orçamento, texto, justificativa da necessidade do prêmio, fotos, planejamento de ações estratégicas, cartas e documentos. Tudo encadernado. E em três vias, claro.

Pescador que nem não vai vender o seu peixe nem não levaria a rede para o mar. Ou nem não iria para o mar. Ou nem não seria pescador. A filosofia de bar pode até ser rasa, mas rasos não são nossos copos e nossos corações. Por algum viés, por algum buraco, por alguma brecha, por uma via – ou três! – nós tentamos alcançar meios de fazer teatro.

Não é fácil caminhar descalço o longo caminho do patrocínio. Mas sem fazê-lo, como sair efetivamente do lugar? Em tanta, tanta gente talentosa, humana, genuína e sincera que conheço arde o mesmo desejo de tornar pública e acessível sua arte. E essa gente há de entender perfeitamente que isso não se trata de fama ou fortuna.

Meus amigos, remendai vossas redes! Preparai vossas Havaianas! Esse é o projeto social de um coletivo, de toda uma geração de atores, diretores, dramaturgos, cenógrafos, figurinistas e iluminadores. Muito provavelmente, para construir e consolidar esse coletivo é preciso dar as mãos munidos de uma fé quase cega, quase religiosa. Com muito trabalho e persistência, nós vamos, através dos anos, escrevendo parte da História da cidade. Simplesmente porque estamos dispostos a interferir e ser interferidos pelas pessoas.

Ao som de um tango brasileiro, eu jogo aqui no ar minhas convicções juvenis e inflamadas. Dedico esse textinho a todos os camaradas da classe. E me despeço. Até muito breve e muitos abraços.

Leticia Guimarães